quinta-feira, 31 de maio de 2012

The bitch is back!

Vou voltar, de malas e bagagens. Não te preocupes, não tenho intenções de cruzar o teu caminho, conheço todas as ruas dessa cidade. Porque bem antes de tu chegares, já todas essas ruas me conheciam os passos. Não acredites se te disserem que voltei para recuperar o que perdi. Já nada do que aí deixei me pertence, nem a mesa do café, nem a revista que me guardava o João do quiosque, nem o último pastel de carne do bar, muito menos o namorado que hoje é teu. E quando te tentarem convencer de que eu exigirei o meu lugar de volta, acredita no que te digo, esse lugar já à muito que não me pertence. Hoje é teu. As ruas dessa cidade são tuas, por melhor que eu as conheça. A mesa do café já não espera por mim, o João do quiosque já não me guarda a última revista com a certeza de que eu não passarei lá ao fim do dia e no bar já ninguém espera que eu chegue a tempo do último pastel de carne. O namorado que um dia foi meu já apagou o meu número da lista telefónica e já ocupou no seu coração o lugar que um dia me pertenceu. E antes de gritarem the bitch is back! num uníssono que eu adivinho audível por toda a cidade, podem ter a certeza de que não terão de volta a mesma L que um dia viram partir. Porque se assim fosse, tu sabes que eu não ia pedir de volta o que me pertenceu um dia, eu ia ter de volta. Mas eu não estou preocupada com aquilo que perdi, porque eu não precisso de nada disso. Oh minha querida, também tu quando saíres daí vais perceber o quanto essa cidade nos mata, nos limita, nos abafa. E por mais que pareça impossível aos teus olhos, a L que tu conheceste não vive mais do que aí construiu, caso assim fosse não teria deixado tudo ruir. Um dia também tu perceberás que a vida lá fora é muito mais do que a vida de princesas que construímos nessa cidade, mas para isso terás primeiro que cair do trono e deixar o teu reino ruir. E por mais impossível que pareça aos olhos de uma pessoa como tu, só assim crescerás o suficiente para deixar de ser menina e te tornares uma mulher. Acredita no que te digo, porque tudo o que tens hoje, um dia já foi meu. E ainda bem que o meu reinado caiu, porque a verdadeira felicidade sempre esteve no meio do povo, onde as gentes são tão mais simples e não existem príncipes desencantados. 

LL


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Vingança

As pessoas que hoje me conhecem não acreditam que eu já tive sentimentos, não acreditam que dentro de mim já houve mais do que este cubo de gelo, não acreditam porque não te conhecem. Se elas soubessem o quanto te amei, entenderiam o porquê de eu hoje rejeitar essa magia a que muitos chamam amor e eu chamo passado. Dei tanto de mim que parte de mim ficou em ti, naquilo que construimos juntos, do qual restam apenas fotografias, presentes esquecidos no fundo de uma gaveta, lembranças de palavras apaixonadas. Fiquei sem força, sem coragem, sem vontade de voltar a construir pontes, deixando os muros que me envolvem crescer de tal maneira que hoje, hoje ninguém chega até mim. As mesmas pessoas das quais ja te falei, as que hoje me conhecem, não acreditariam se lhes dissesses que eu já tive mais do que fugazes casos de uma noite de copos, que eu já fui mulher de um só homem, bem antes de ser uma mulher de homens. A certeza de que aquela mulher que conheceste jamais voltará é enorme. Foi substituida pelo que hoje sou. E o que sou eu hoje? Uma mulher livre. Livre de ódios e amores, livre de culpas, livre de interesses, porque nada em mim me faz pensar nas consequências, nada em mim me leva a repensar uma atitude. Eu faço porque sim, porque me apetece e porque no dia a seguir restará talvez uma ressaca ou quanto muito mensagens no telemóvel às quais certamente não responderei. Porque nada na minha vida dura mais do que uma noite. Não preciso de histórias de uma vida, não quero histórias de uma vida, pedaços de histórias inacabadas de noites alheias são suficientes para mim. Não para me fazerem feliz, mas para me fazerem esquecer o vazio que em mim deixaste. Fiquei assim, uma mulher de maus hábitos, uma mulher sem amor para dar nem tão pouco com vontade de o receber. Quem sou hoje? Uma mulher que se deixa acabar em vícios, que troca beijos desapaixonados em noites rapidamente esquecidas, uma mulher que decidiu ser ela a partir corações antes de deixar alguém sequer pensar em partir o seu. Esta sou eu. Esta é a mulher que tu hoje dirias que não conheces, esta é a mulher que tu transformaste em máquina, a mulher que reuniu nela tudo o que tu mais desprezas numa mulher. Porque a deixaste e ela foi tonta o suficiente para pensar que essa seria a melhor vingança, não percebendo que se estava a vingar era dela mesma. Por um dia te ter amado.

E já lá vai um ano*