quinta-feira, 27 de junho de 2013

Eu era furacão, tu brisa.

Eu era furacão, tu brisa. Pelo menos era assim que nos descreviam os nossos amigos. Tu a calma apaziguadora, eu a guerra constante. Em guerra comigo, em guerra com os outros, em guerra com o mundo. Hoje pergunto-me se sentirás saudades das batalhas travadas, ou se simplesmente te sentes melhor desde que encontraste a paz. Eu desligada, tu atento. Eu uma sonhadora, tu realista. E era tão diferente tudo o que nos rodeava que as pessoas tinham dificuldade em compreender o que nos unia. Mas é tão fácil de compreender a quem o vive... O que nos unia era amor. Não aquele amor arrebatador que vem do nada e consome tudo, não era desse amor que se tratava. Era o amor construído aos poucos, em bases sólidas, o amor cuidado, como tu gostavas de lhe chamar. O nosso amor era como uma flor que juntos fomos regando, tirando as ervas daninhas, deixando crescer e florescer. E o tanto que eu gosto de flores! Será que ainda te lembras disso? Às vezes pergunto-me se te lembrarás de mim quando vês uma tulipa a florescer num vaso. Dizias que era a mulher mais simples que alguma vez havias conhecido, que o meu rosto brilhava sempre que me oferecias uma flor e que gostavas de estar comigo sentados na margem do rio, mesmo que eu nada dissesse, porque jamais te cansavas de mim. Mas de repente eu levantava-me e exclamava vamos dar um mergulho! e tu incrédulo respondias L, é de noite, está frio e não temos roupa seca para vestir, não quero que te constipes! e eu enternecida com as tuas palavras dava-te um beijo na testa e corria para o rio dizendo eu vou, ficas? e tu sorrindo levantavas-te para vir ao meu encontro, dizendo que não acreditavas que houvesse no mundo alguém que fosse uma maior caixa de surpresas do que eu mesma. Eu também não acreditava que houvesse alguém que melhor soubesse cuidar de mim do que tu. Só tu sabias as fragilidades que mantinha escondidas debaixo desta máscara de mulher furacão. Sabias que mais ninguém me conhecia como tu e que se te perdesse viveria para sempre a fachada da mulher pedra. Será que não te lembras disso agora? Será que não pensas em como me sentirei sem ti para cuidar de mim? Gostava que sentisses saudades minhas, da L que sou, saudades até da minha loucura. Eu tenho saudades tuas. Saudades do teu abraço, das tuas palavras, vai tudo ficar bem L, eu estou aqui.. Mas tudo mudou, de ti nada sei. Não sei se estás bem, se és feliz, se seguiste a tua vida. Sei apenas que nunca ninguém me disse que perguntaste por mim, nunca ninguém me disse que esperavas que estivesse tudo bem comigo. Também ninguém me disse que havias encontrado alguém e eu mantenho a esperança de que ainda não tenhas conseguido amar alguém depois de mim. Repetias vezes sem conta que tinha sido comigo que havias conhecido o amor. Mas hoje eu sei que foi também comigo que sentiste o que era viver uma desilusão. Foi a mesma loucura que te fez apaixonar por mim que te levou a desistir deste amor. Hoje compreendo, sei que não é fácil amar-me. Depois de ti muitos se apaixonaram, mas nenhum foi capaz de me amar. O amor conheci-o contigo, a teu lado. Conheci-o quando dávamos as mãos e de repente eu soltava a minha mão da tua e gritava não me apanhas! enquanto corria... Mas um dia soltamos as mãos e eu não corri, fiquei perplexa a olhar para ti enquanto lágrimas escorriam dos teus olhos. Desta vez foste tu quem correu, pedindo que não te tentasse alcançar. Até hoje de ti nada sei a não ser a certeza de que foste capaz de correr sem travar nenhuma batalha. Eu batalhei muito, batalhei contra mim mesma e até contra a minha própria loucura. Quem sabe um dia não voltemos a dar as mãos, nem que seja uma última vez, para que eu te possa dizer que nunca ninguém foi capaz de segurar a minha mão de forma tão firme! Talvez porque nunca ninguém foi capaz de compreender a minha loucura...