Este é um blog de sonhos. Os textos aqui publicados fazem parte do universo imaginário de LL. No entanto, apesar de serem criados no imaginário, quantos deles não nascem na realidade? *
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Afinal, não é isso o amor?
Naquele dia ela vagueava sozinha pelas ruas da cidade, tentando abstrair-se dos fantasmas que à muito a perseguiam. Andava de loja em loja, escolhendo modelos, cores, tamanhos... É essa a solução que todas nós, mulheres, encontramos para os desgostos desta vida. Nada melhor que mimar-nos a nós próprias depois de um desgosto de amor. É isso ou chocolates. E chocolates todas nós sabemos que é um ciclo vicioso, sem fim e com graves consequências. Pelo sim pelo não mais vale dar um desfalque na conta bancária. Pelo menos não está ali, visível no espelho, a consequência do nosso acto não pensado. As pernas começaram a ceder e o pés já lhe doíam, por isso decidiu sentar-se num banco, ali mesmo, na rua comercial. Estava tão distraída a pensar num par de sapatos que havia deixado por comprar numa loja, que nem viu a senhora de idade que se aproximava:
- Posso ler-lhe a mão? - disse a senhora que se apoiava numa bengala para se conseguir manter em pé.
- Precisa de uma moeda? Deixe-me ver se tenho - disse L abrindo a carteira.
- Eu não quero dinheiro, quero ler-lhe a mão apenas. - disse a senhora de imediato.
- Ler-me a mão? Mas porquê? - L não conseguia perceber a pretensão da senhora.
- Porque acho que precisa.
L exitou, achava aquilo demasiado estranho, não gostava dessas coisas, nunca gostou do que não conseguia compreender. Mas cedeu. Num impulso de curiosidade. A senhora sentou-se e pegou-lhe na mão.
- Tem as mãos tão delicadas e suaves, que quem a vir nunca dirá o quão calejado está o seu coração.
L nada dizia, mantinha-se em silêncio, tentando perceber o que teria para lhe dizer aquela senhora que devia ter perto de oitenta anos, que estava desarranjada e parecia não se cuidar nem alimentar em condições, mas que no entanto não queria dinheiro, queria apenas poder ler-lhe a mão.
- Não devia lamentar-se pelo que perdeu, porque eu consigo ver aqui na sua mão que não perdeu nada. Nunca foi seu. A sua atitude é de louvar, nem toda gente consegue deixar para trás aquilo que nos contamina o coração. Tem uma força interior enorme. Por isso mesmo não se consuma com a escolha que fez. Ele nunca foi seu. Porque o que é seu ainda está para vir. Sabe, mulheres decididas e determinadas, mulheres com pulso como se costuma dizer, não são fáceis. Não são para qualquer homem. Elas precisam de ser estimuladas e não recalcadas. E você foi muito recalcada, demasiado até. Mulheres inteligentes que se deixam anular, isso não devia existir.
- Está a querer dizer-me que eu me anulei?
- Anulou e muito. Andou tanto tempo a ter pulso de ferro para com o mundo para depois se deixar levar perante a covardia de um homem. É isso que muitas vezes acontece com mulheres que sempre foram focadas e determinadas. Um dia deixam-se levar pela estupidez de um homem. Você sabe que ele é desfocado e já lhe provou não ter bom coração, não sabe?
- Sim, sei.
- Então que espécie de homem ou de amor pode ser esse? Mas não se preocupe minha querida, felizmente o destino tem melhores planos para si.
- Não sei se acredito muito nisso...
- Acredite. O destino vai trazer-lhe alguém que se a vir cair cinco vezes a vai levantar seis.
Naquele dia L ficou a pensar naquilo e na conversa que tivera com a senhora, mas nos dias seguintes esquecera-se completamente do sucedido.
Algum tempo depois ela veio a lembrar-se da conversa que havia tido com a senhora. Era um dia de chuva, L entrara no café e pousara o guarda-chuva logo à entrada. Dirigiu-se a uma mesa e sentou-se. De repente vê alguém aproximar-se:
- O que estás aqui a fazer? Eu disse-te que estou demasiado magoada para me conseguir aproximar de alguém. Quero estar assim, sozinha, não quero sofrer mais.
- Vou apenas sentar-me. Prometo que não falo. Não tenho pressas, eu espero o tempo que for preciso para que as feridas do teu coração sarem, porque quando estou perto de ti, sinto que temos a vida inteira.
Naquele momento ela lembrou-se da conversa, e pensou que talvez a senhora tivesse razão, o destino trouxe até si alguém que ela sabia que a ajudaria a levantar, quantas vezes fosse preciso...
Afinal, não é isso o amor? A mão que se estende quando o mundo nos empurra. E nunca o contrário.
Subscrever:
Mensagens (Atom)