segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Papá

Acordava, ainda adormecida O silêncio Numa causa onde outrora pairou a euforia A casa fria Faltava calor humano. Tinha que despertar Não por mim Mas por ele Ele é a minha família Somos só nós Nesta casa construída para cinco Sinto um peso O peso de querer fazê-lo feliz Como se fosse possível dar-lhe o que perdeu O seu sorriso esconde a dor Não é fácil perder a família aos cinquenta Nem aos vinte e um, pensei Mas isso ele já não precisa de saber E sorrio de cada vez que ele chega atrasado para jantar Como se não importasse o tempo que espero Como se a solidão não me invadisse Como se as malas e os relógios me fizessem feliz Ele acredita que sim E eu quero que ele continue a acreditar Perdi o meu lado de menina Tive que descobrir o meu lado de mulher Ela partiu Foi procurar a felicidade Longe de nós Ouvir o seu nome magoa-te Dizes sempre que sou parecida a ti Evitando prolongar a sua presença nesta casa Esqueces-te de trocar a lâmpada Eu chateio-me Como ela fazia E tu sorris Porque no fundo eu sou o que resta dela E por mais que não a aceites Dói de mais a sua partida E eu continuo a fingir Fingindo que o dinheiro compra o calor desta casa Sabes que mais? Não compra. Preferia ter menos comida na mesa E mais gente. Como antigamente, lembras-te? Daqui a uns dias faço vinte e dois anos Isso assusta-te Tens medo que voe Prometo que não te deixarei Somos uma família Os dois Não me importo de fingir a vida toda Não me importo de esperar por ti Não me importo com o silêncio Prometo ficar. Por ti, por mim, por nós És o homem da minha vida, papá 💛