Entrei distraidamente no café da minha rua, doía-me a cabeça da noite anterior, tinha bebido mais do que seria capaz de suportar. Lá fora chovia e o dia frio e escuro deixava-me com uma expressão demasiado apagada. Sentei-me numa mesa logo à entrada, pedi um café curto e comecei o ler o meu signo da semana na revista que trazia comigo. Subitamente oiço alguém dizer o meu nome e levanto a cabeça, reconhecera a voz, mas precisava de ver para conseguir acreditar.
-T! - Exclamei surpresa.
-Como estás?
-Bem e tu?
-Também. Estás sozinha? Posso sentar-me?
-Sim, senta-te.
T pediu um café e uma garrafa de água.
-Estás diferente L, mais bonita, o que eu não acharia possível.
-T, por favor, queres mesmo que acredite nisso?
-Porque não?
-Olha para mim, estou com uma camisola que roubei ao meu pai, com o cabelo apanhado e sem maquilhagem que disfarce as horas de sono a menos.
-Vistas o que vestires, com ou sem maquilhagem, serás sempre uma mulher bonita.
-Obrigada T...
Houve uns longos minutos de um constrangedor silêncio, até que T ganhou coragem para falar.
-Se te convidasse para jantar, aceitarias?
-As coisas mudaram durante este tempo em que não falamos... Eu namoro, não posso aceitar, mas obrigada.
-Namoras? - Perguntou T em tom de incredulidade.
-Sim. Porquê tanta admiração?
-Não acreditaria se não o tivesse ouvido de ti. Conheço-te bem de mais para saber que ontem bebeste uns copos a mais, hoje acordaste com dores de cabeça e vestiste a camisola do teu pai para não teres que combinar nada com nada. A tua vida não mudou muito para quem assumiu um compromisso.
-Eu disse que namoro, não disse que tinha deixado de ter vida social.
-Eu sei, mas será preciso dizer-te novamente que te conheço tão bem que sei que apenas bebes quando a tua vida está demasiado solitária? Quando te cansas do que te rodeia e...
-Não é bem assim! - Interrompi - Talvez não me conheças assim tão bem.
-Conheço sim. Sei também que gostaste muito de mim, mesmo que nunca o tenhas admitido. Mas isso eu percebi demasiado tarde.
-Quem te disse isso enganou-te T.
-Há coisas que não precisam de ser ditas L. Repensa o meu convite para jantar.
-Já te disse, eu tenho namorado.
-Eu sei, eu estou a dizer que podes ter muito mais que isso. Podes ter alguém que seja o suficiente para que deixes de ter estes dias em que achas que vestir a camisola do teu pai e vir sozinha para o café da tua rua basta, porque não basta, muito menos para uma mulher como tu.
-Eu acho que o que basta é desta conversa, tenho que ir.
-L, nem tu acreditas nesse namoro, eu vejo isso nos teus olhos.
Levantei-me, peguei na revista que havia deixado aberta na página dos signos e disse:
-Então devias conseguir ver também que não acredito em ti. Prefiro o meu namoro de Sábado à noite do que as tuas conversas ilusórias de toda a semana.
Este é um blog de sonhos. Os textos aqui publicados fazem parte do universo imaginário de LL. No entanto, apesar de serem criados no imaginário, quantos deles não nascem na realidade? *
quarta-feira, 20 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
Nós, mulheres.
Li recentemente um estudo cientifico que comprovava que nós mulheres temos uma grande capacidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo. Depois de uns longos minutos debruçada sobre o mesmo cheguei a uma conclusão que adivinho ser a chave para as questões que atormentam a minha cabeça: Se nós mulheres temos essa dita capacidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo, não será então normal que haja mulheres que conseguem gostar de vários homens ao mesmo tempo? É o primeiro namorado, porque todas nós sabemos que não há amor como o primeiro, é o ex-namorado porque quando o namoro acaba ficamos com uma estúpida sensação de que era o homem das nossas vidas, e é o actual que nos vai preenchendo o tempo e o vazio do coração... e ainda há aquele vizinho que joga ténis com quem apenas nos cruzamos no elevador e nunca trocamos mais do que um simpático bom dia, mas ficamos sem jeito de cada vez que o vemos. Numa hora conseguimos pensar em todos eles, agrupá-los, classificá-los e ainda falar deles com as amigas. Falamos em aquele que é o amor da minha vida, em o meu primeiro amor, em o tal que me deixa sem jeito e depois um pouco mais à frente na conversa referimos o meu namorado. É aquilo a que se chamaria um coração e uma mente demasiado ocupados. Em conversa com as amigas diriam: Eu só gosto do meu X, vamos casar e sei que seremos muito felizes. Mas, quando a primeira confessasse que não esqueceu o ex-namorado, choveriam confissões de outros amores. Talvez não devam ser considerados amores, mas nós mulheres chamamos-lhe assim. Talvez porque queremos que entendam que estamos a pensar com o coração, e que deixaremos essas histórias por lá. E deixamos mesmo, provando que não fazemos uso da nossa tão conhecida capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo.
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