Este é um blog de sonhos. Os textos aqui publicados fazem parte do universo imaginário de LL. No entanto, apesar de serem criados no imaginário, quantos deles não nascem na realidade? *
terça-feira, 7 de abril de 2015
Os domingos
Era um Domingo, mais um Domingo sem encanto. Para ela, aquele dia da semana deveria ser riscado do calendário. Era um tormento que chegasse o dia que outrora fora o dia mais feliz das suas semanas. Associava o Domingo à cor branca, trouxera-lhe tantas vezes paz e felicidade. Hoje não gostava de olhar para ele. Dizem que o Domingo é o dia da família, talvez por isso lhe custasse encarar este novo Domingo, pintado de uma outra cor qualquer, que se recusava a saber qual. Sentia-se mais uma a entrar nas estatísticas de filhos de pais divorciados, e por mais que já o tivesse aceite, este novo quadro não se encaixava nos seus padrões de uma família de Domingo. Em tempos que o tempo levou, fora uma menina sortuda criada no seio de uma família feliz. Só depois se mudaram os tempos, se inverteram as prioridades, se desvendaram personalidades e o reino encantado da sua infância caiu, reduzido a cacos, como se nunca tivesse passado de uma peça de teatro que chegara ao fim. Foi exactamente isso que ela lhe explicou quando ele lhe perguntou porque razão ela não gostava deste dia. Ele vinha de uma família de Domingo, pensou ela, talvez por isso tivesse precisado de uma explicação, neste que era mais um Domingo pintado de tons escuros no quadro da sua semana. No fim da sua explicação ele acenou com a cabeça, colocou a sua mão sobre a dela e disse que também ele nunca fora adepto deste dia. Ela perguntou-lhe o porquê e ele, direcionando o olhar num ponto longínquo, explicou-lhe que desde que o seu pai passara por uma fase complicada em que se deixara levar pelo vício do jogo, os Domingos eram dia para se juntarem em volta da mesma mesa atirando culpas e discutindo o que se perdeu. De forma diferente, talvez ele também não viesse de uma família de Domingo feliz, pensou ela. Ambos não sabiam o que tinha acontecido desde que cresceram e se tornaram adultos. Ou a vida nos pregou uma rasteira, ou deixaram de nos atirar poeira para os olhos, foi essa a observação dele, depois de uns momentos de silêncio. Ela explicou-lhe que apesar de tudo pelo qual passaram, admirava a família dele. Admirava a sua mãe que não desistiu do seu pai, admirava o seu pai que nunca chegou a desistir dele mesmo e admirava-o a ele, que em nenhum momento os culpou. Para ela, isso era uma família de Domingo, ainda que nem sempre fosse um Domingo feliz, todos eles se recusaram a abandonar aquela mesa. A união faz uma familia, era assim que ela pensava. Ele sorriu e disse que no fundo a invejava a ela, porque apesar de ter sido em tempos que já lá vão, se notava nos seus olhos que havia vivido verdadeiros Domingos felizes, o que só pode acontecer numa família onde se partilhe amor.
(...)
Cinco anos depois casaram, para esta união ele contribuiu com a sua preserverança,a preserverança que outrora havia feito da família dele uma família unida. Ela contribuiu com o amor, o amor que fizera dos seus Doningos de infância dias felizes. E foi assim que os Domingos dela voltaram a ser brancos, provando que nada nos impede de conquistarmos por nos próprios aquilo que a vida nos roubou.
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